Legalização do aborto é rejeitada pelo Senado da Argentina

O Senado da Argentina rejeitou na madrugada desta quinta-feira (9), um projeto de lei para legalizar o aborto eletivo (dependente apenas da vontade da gestante), o que significou uma derrota para um movimento de base, que chegou mais perto do que nunca de conseguir a descriminalização do procedimento na terra natal do Papa Francisco.

Os legisladores debateram por mais de 15 horas e participaram de uma votação que resultou em 38 a 31 contra a medida que visava legalizado o aborto eletivo nas primeiras 14 semanas de gravidez. A decisão pode ecoar em toda a América Latina, onde a Igreja Católica Romana tem perdido influência e autoridade moral.

Por longas horas, milhares de manifestantes contra e a favor à legalização ocuparam as ruas de Buenos Aires. Os favoráveis ao aborto usavam lenços verdes, que representam o esforço para legalizar o aborto, enquanto os opositores da medida vestiam azul claro. A manifestação ocorreu mesmo sob chuva forte e as temperaturas frias do inverno da Argentina e os manifestantes assistiram ao debate em telões montados do lado de fora do Congresso.

As manifestações foram em grande parte pacíficas, mas após a votação, pequenos grupos de manifestantes entraram em confronto com a polícia, lançando bombas incendiárias e montando barricadas de fogo. Os policiais responderam com gás lacrimogêneo.

Pressionada por uma onda de manifestações de grupos de mulheres, a Câmara dos Deputados já havia aprovado a medida e o presidente conservador, Mauricio Macri, disse que a assinaria, apesar de ser contra o aborto.

“Independentemente do resultado, hoje a democracia vence”, disse Macri antes da votação.

Na Argentina, o aborto só é permitido em casos de estupro e riscos à saúde da mulher. Milhares de mulheres, a maioria delas pobres, são hospitalizadas todos os anos devido a complicações causadas pela realização de abortos.

Os defensores da medida disseram que legalizar o aborto salvaria a vida de muitas mulheres. O Ministério da Saúde estimou em 2016 que o país vê cerca de meio milhão de abortos clandestinos a cada ano, com dezenas de mulheres morrendo como resultado. A Igreja Católica e outros grupos se opuseram, dizendo que a proposta violava a lei argentina, que garante a vida desde o momento da concepção.

Tensão

A possível aprovação da medida estava preocupando centenas de médicos argentinos que se opõem ao aborto por razões pessoais, como crenças religiosas ou valores morais.

Dias atrás, funcionários de pelo menos 300 hospitais argentinos foram às ruas para protestar contra a medida, afirmando que temiam serem presos, caso a lei fosse aprovada e se recusassem a realizar abortos posteriormente à sanção da proposta. A tensão dos médicos pró-vida se baseava na falta de clareza da lei quanto às penalidades previstas para os profissionais de saúde quem se opusessem ao aborto.

“Os médicos não podem trabalhar sob a ameaça da prisão”, disse Maria de los Angeles Carmona, chefe de ginecologia do hospital estatal Eva Peron.

“Até onde estamos dispostos a ir? Prisão”, disse Ernesto Beruti, chefe de obstetrícia do Hospital da Universidade Austral. “Mesmo que a lei seja aprovada, não vou eliminar a vida de um ser humano. O direito mais importante é o direito de viver”.

Durante a votação, enquanto milhares esperavam pela decisão nas ruas sob seus guarda-chuvas, outros se reuniram na noite de quarta-feira em uma “Vigília pela Vida” na Catedral Metropolitana.

“Não se trata de crenças religiosas, mas de uma razão humanitária”, disse o cardeal Mario Poli, arcebispo de Buenos Aires. “Cuidar da vida é o primeiro direito humano e o dever do Estado”.

Fonte: Guia-me / com informações da Fox News 

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