Evangélicos já evitaram 84 suicídios em menos de um mês, em ponte de Natal

O pastor Rubens Medeiros, de 45 anos, da Assembleia de Deus, conta que se sentiu chamado a evitar os suicídios depois de sonhar que seu filho de três anos era uma das vítimas.

“Eu o via subir a ponte e saltar. Acordei apavorado. Naquele momento, entendi que Deus estava falando comigo e decidi que iria acampar aqui, para evitar que as pessoas façam esse horror”, disse ele à Época. Até a publicação da reportagem, na última sexta-feira (10), 84 suicídios foram evitados pelo grupo “Sentinelas de Cristo” em menos de um mês.

“Apenas uma pessoa conseguiu. Foi uma pena”, lamentou o pastor com o olhar vago, mirando a ponte.

A primeira pessoa a ser impedida de cometer suicídio pelos Sentinelas de Cristo foi uma mulher, na noite da Sexta-feira da Paixão de Cristo. Ela queria tirar a própria vida após descobrir a traição do marido.

“Foi a primeira noite em que montei acampamento e vi essa mulher surgir subindo a ponte. Corremos e a agarramos. Na primeira noite, éramos apenas eu e mais dois voluntários. Conseguimos impedir que ela se atirasse”, relembrou o pastor.

Desde então, Rubens montou um acampamento na cabeceira da ponte e chamou a atenção de todo o país. Devido à repercussão, o trabalho das Sentinelas foi equipado com mais de 20 rádios para comunicação, toda vez que um suicida em potencial começa a subir a ponte. Eles se dividem em equipes de plantão e cobrem toda a extensão de quase 3 km da ponte, três equipes de cada lado.

“As pessoas param aqui para nos cumprimentar. Mas também param para encontrar um ponto descoberto para se jogar”, explica Ailton de Oliveira, de 51 anos, um dos sentinelas. “Há seis anos estou livre das drogas. Estou aqui hoje para retribuir o que Deus fez por mim. Eu também subi essa ponte para me matar. Mas, na hora de pular, Deus falou comigo. Agora é minha vez de devolver esse gesto”.

Entre as 84 pessoas que tentaram cometer suicídio, a dor emocional é um ponto em comum. “É impressionante o número de pessoas que tentam se matar porque não se sentem amadas”, comenta Rubens. Na última semana, um caso em particular tocou a todos: uma mãe subiu a ponte com seu bebê nos braços para dar fim à própria vida e à do filho. “Ela não se sentia merecedora de amor”, revelou o pastor.

Rubens também experimentou a dor enquanto salvava outras vidas. Numa tarde de sábado, enquanto estava no acampamento, seu telefone tocou com a notícia de que seu pai havia acabado de morrer depois de um ataque fulminante.

“Eu perguntei o que Deus queria de mim. Pensei que, àquela altura, mais de 70 famílias deveriam estar enlutadas porque teriam algum familiar que se matou, mas não estavam graças a nosso trabalho. Então, por que a minha era que estava em luto? Por quê?”, questionou o pastor na época, que hoje não busca mais a resposta. “Já a encontrei fazendo o que faço aqui”.

Rede de apoio

Rubens Medeiros disse à Época que já serviu sua cidade como militar, “mas hoje sirvo a Deus”. Pai de três filhos, ele é pastor e ganha a vida como trader, operando na bolsa de valores. Ele conta que já gastou do próprio bolso quase R$ 5 mil, já que a maioria das doações que chegam ao local não são feitas em dinheiro.

A Cruz Vermelha doou duas barracas e igrejas forneceram banheiros químicos. Para tomar banho, eles se revezam em uma casa alugada por R$ 250 a alguns metros do acampamento, de onde puxaram uma fiação que fornece luz para o local.

A mobilização dos evangélicos atraiu a ajuda de profissionais como advogados, psicólogos e psiquiatras engajados na causa. É o caso da educadora física Leila Maia, que se juntou ao pastor nos esforços para conseguir os equipamentos de segurança da ponte.

“Meu projeto nasceu de uma inspiração na Coreia do Sul, quando a Samsung fez uma campanha em uma ponte que também estava sendo utilizada para suicídios e conseguiu redução de 85% dos casos”, explicou. Com o esforço de Leila, 80 mensagens de encorajamento pela vida estão espalhadas ao longo da ponte.

Embora a ação do grupo tenha chamado a atenção nas redes sociais, o pastor Rubens Medeiros só pretende desmontar seu acampamento, que atualmente chega a ter 500 pessoas por dia, quando o governo der uma resposta eficiente ao problema. “Só vamos sair daqui quando mandarem patrulha para esta ponte enquanto providenciam a rede de proteção”, afirmou convicto.

De acordo com a Época, o governo do Rio Grande do Norte e a prefeitura de Natal foram sentenciados em outubro de 2018 pela Fazenda Pública de Natal a providenciar os equipamentos de segurança na ponte. Em nota, a prefeitura de Natal informou que recorre da decisão porque a ponte foi construída com recursos federais, executada pelo Estado, e que não lhe compete nenhuma intervenção no local. Sobre a patrulha, informou não dispor de efetivo para se revezar nas vigílias como os voluntários têm feito.

A governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), recebeu uma equipe dos Sentinelas de Cristo e anunciou a formação de uma comissão para tomar medidas, juntando esforços com a prefeitura de Natal. Enquanto isso, o pastor Rubens busca apoio em nível federal. Ele chegou a receber manifestação em vídeo do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e alimenta a esperança de que o presidente Jair Bolsonaro possa se sensibilizar com o caso.

FONTE: GUIAME, COM INFORMAÇÕES DA ÉPOCA

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