Despesa com cargos de confiança sobe 181% e atinge patamar recorde na gestão Lula

O governo federal quase dobrou — e em alguns pontos, mais que dobrou — os gastos com cargos comissionados desde 2019, revelando uma escalada que supera em larga margem os valores praticados durante a gestão Jair Bolsonaro (2019-2022). Dados obtidos pelo R7 via Lei de Acesso à Informação mostram que a despesa com agentes públicos nomeados sem concurso saltou de R$ 564,5 milhões em 2019 para R$ 1,6 bilhão em 2024, um aumento de 181%. Em 2025, até outubro, o total já alcança R$ 1,589 bilhão — praticamente o mesmo volume de todo o ano anterior.

A evolução anual evidencia uma curva de crescimento contínuo: R$ 564,5 milhões (2019), R$ 728,7 milhões (2020), R$ 759,3 milhões (2021), R$ 981,7 milhões (2022), R$ 1,421 bilhão (2023), R$ 1,628 bilhão (2024) e R$ 1,589 bilhão em 2025 até outubro. Na prática, o gasto anual atual é quase três vezes superior ao registrado no primeiro ano do governo Bolsonaro — e 66% acima da média de despesas do período de 2019 a 2022.

Além do aumento financeiro, houve também uma ampliação expressiva no número de cargos de confiança distribuídos pela administração federal. Em 2019, a União mantinha 31.805 funções comissionadas. O número permaneceu relativamente estável até 2021, com pequenas oscilações. A virada ocorre em 2022, último ano de Bolsonaro, quando o total salta para 46.259 — resultado de uma reorganização administrativa que ampliou estruturas internas de ministérios e criou novas funções de assessoramento.

O ritmo acelerou ainda mais após a posse de Luiz Inácio Lula da Silva em 2023. O estoque de cargos passou a 47.726 no primeiro ano, atingiu 49.421 em 2024 e chegou a 50.124 em 2025. Hoje, há 18 mil cargos comissionados a mais do que no início de 2019, um crescimento de 57%. Em comparação com a média dos quatro anos da gestão Bolsonaro (cerca de 35 mil cargos), o governo atual opera com aproximadamente 15 mil posições extras de livre nomeação.

A explosão de gastos acompanha, portanto, a expansão da estrutura de confiança distribuída entre ministérios, autarquias e órgãos da administração direta e indireta. Os cargos de livre nomeação — que não exigem concurso público e podem ser ocupados ou esvaziados a qualquer momento — são tradicionalmente usados como instrumento de acomodação política, compondo a base parlamentar e atendendo a acordos com partidos aliados. A ampliação do quadro tende a gerar impacto imediato na folha porque envolve remunerações superiores às de funções administrativas comuns, especialmente nos níveis de direção e assessoramento superior.

Durante o governo Bolsonaro, embora houvesse número relevante de comissionados, a política oficial se concentrava na redução de estruturas administrativas e na valorização de servidores concursados, movimentação que manteve o crescimento de gastos relativamente contido até 2021. Já em 2022, ano eleitoral, houve ampliação significativa do total de cargos, mas ainda assim o gasto anual (R$ 981,7 milhões) ficou muito abaixo do patamar atingido a partir de 2023.

No governo Lula, a recomposição de ministérios — que passaram de 23 para 37 — e o aumento das estruturas internas das pastas impulsionaram a abertura de milhares de vagas de direção, coordenação e assessoramento. Além disso, a negociação para garantir apoio no Congresso, sobretudo no Centrão, reforçou a utilização de cargos estratégicos como moeda de troca política. A soma de fatores incrementou tanto o volume de nomeações quanto o custo total da máquina pública.

Especialistas em gestão pública lembram que cargos comissionados são instrumentos legítimos de organização administrativa, mas destacam que a expansão contínua costuma elevar despesas sem ganhos proporcionais de eficiência. Já parlamentares da oposição criticam o que chamam de “inchamento da estrutura estatal”, apontando que o crescimento supera largamente a média de governos anteriores e amplia a dependência do Planalto de alianças políticas sustentadas por nomeações.

O governo federal, por sua vez, argumenta que a recomposição administrativa era necessária para reconstruir políticas públicas desmontadas e que o volume de cargos está dentro dos limites legais. Ainda assim, o salto simultâneo de gastos e de cargos de confiança evidencia uma mudança estrutural relevante — e coloca a máquina pública federal em seu maior patamar de comissionados e de despesas com esses postos desde o início da série histórica disponível.

Fonte: Hora Brasília

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