Governo Lula compra carteiras escolares por mais de 50% acima do preço estimado pela CGU, segundo UOL

governo federal, por meio do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), aprovou um pacote de compras de móveis escolares em que algumas unidades foram adquiridas por mais 50% acima da estimativa da Controladoria-Geral da União (CGU). O gasto total pode chegar a R$ 3 bilhões, sendo R$ 1 bilhão acima do que o próprio órgão de controle previa como aceitável. A informação é do portal UOL.

Entre os exemplos mais gritantes está o conjunto de mesa para professor, que custava R$ 368,88 em 2022 (corrigido para R$ 387,55 com inflação), mas foi contratado por até R$ 1.072 — 176%, na verdade. Ou seja, você poderia comprar uma mesa para cada aluno com o valor de uma só, segundo a tabela do governo.

A cereja no bolo? A pesquisa de preços foi mantida em sigilo. E as regras do edital afastaram parte dos fornecedores, segundo relatos das empresas que não conseguiram participar. As exigências incluíam certificações técnicas que nem o Inmetro pede, prazos curtos para apresentar documentos e condições que, na prática, deixaram o campo livre para poucos vencedores — muitos deles, curiosamente, ligados à associação já criticada pela CGU.

“As exigências não podiam ser atendidas pela maioria dos fornecedores”, disse a MC Indústria e Comércio de Móveis, uma das empresas excluídas do processo.

O resultado? Uma licitação pública com cara de clube fechado. Tudo isso para entregar móveis que, segundo o próprio FNDE, são “melhores” e “mais seguros” — o tipo de argumento que serve tanto para justificar padrões de qualidade quanto para camuflar favoritismo disfarçado de zelo técnico.

Entre as empresas que saíram com contratos estão MaqmóveisDelta Produtos e Serviços e Incomel — todas ligadas à Abime, entidade que já teve seus preços questionados pela CGU em fiscalizações anteriores. A Abime, quando procurada, disse não saber de nada. Já a Maqmóveis afirmou que vendeu abaixo do preço de outros concorrentes e que cumpriu o edital “na íntegra”.

Claro. Quando o preço de referência está inflado, qualquer valor abaixo dele parece um desconto.

O FNDE, presidido por Fernanda Pacobahyba, nome ligada ao ministro Camilo Santana (Educação), diz que todas as exigências do edital foram feitas “para garantir ergonomia e segurança”. E que a culpa é do edital antigo, feito no governo Bolsonaro.

Mas as atas com os preços inflacionados foram validadas em 2024, pela atual gestão Lula. O discurso de ruptura com os erros do passado vai ficando cada vez mais simbólico. Ou retórico.

Enquanto o governo Lula busca apoio entre prefeitos e parlamentares com promessas de mais escolas e inclusão, o escândalo das carteiras escolares mostra como a velha política de licitação turbinada sobrevive com roupa nova.

A CGU já havia alertado para o risco de R$ 1,6 bilhão de sobrepreço. O governo, em vez de revisar tudo, ajustou a quantidade de carteiras e manteve os valores — como quem troca o pneu, mas deixa o carro sem freio.

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