
Ex-assessor denuncia manipulações sob comando de Moraes e foge para a Itália
Eduardo Tagliaferro, ex-assessor do TSE e perito criminal, decidiu falar o que viu nos bastidores do tribunal e não poupou críticas. Em conversa com o jornalista Paulo Cappelli, ele afirmou que, se tivesse exposto antes as “lambanças” ocorridas sob o comando de Alexandre de Moraes, provavelmente já estaria morto. Hoje, vive na Itália, para onde fugiu antes que o ministro decretasse sua prisão, acusado de violar sigilo funcional.
A trajetória dele dentro do TSE começou em 2022, quando foi nomeado chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação. Foi nesse período que, segundo Tagliaferro, presenciou várias irregularidades. Parte dessas situações veio à tona no ano passado, quando a Folha de S.Paulo revelou que o gabinete de Moraes no STF enviava ordens à Justiça Eleitoral por canais paralelos, exigindo relatórios que sustentassem decisões contra aliados de Bolsonaro no inquérito das fake news.
Mensagens obtidas pelo jornal mostraram conversas entre Tagliaferro e o juiz Airton Vieira, assessor de Moraes. Em uma delas, Vieira chegou a pedir que ele usasse “criatividade” contra a revista Oeste. Segundo críticos, revelações desse tipo, em qualquer democracia madura, seriam suficientes para derrubar autoridades envolvidas.
Antes que essas denúncias viessem a público, Tagliaferro acabou sendo demitido do TSE, acusado de violência doméstica, e passou a ser visto como principal suspeito de ter vazado informações para a imprensa. Pressentindo que seria alvo de perseguição, deixou o Brasil rumo à Itália, onde permanece até hoje. Moraes já pediu sua extradição.
As revelações não pararam aí. Novos lotes de mensagens, obtidos pelos jornalistas Eli Vieira e David Ágape, indicam a existência de um suposto gabinete clandestino de inteligência no TSE. Esse núcleo teria elaborado relatórios “ideológicos” sobre os presos de 8 de janeiro, documentos que teriam servido para definir quem ficava atrás das grades e quem seria solto.
Em depoimento recente à Comissão de Segurança Pública do Senado, Tagliaferro levou papéis que, segundo ele, mostram adulteração de datas em relatórios usados pela Polícia Federal contra empresários que criticaram a vitória de Lula em grupos privados de mensagens. Ele acusa Moraes de ter mandado produzir um parecer retroativo para dar aparência de investigação técnica ao que, na verdade, teria sido baseado numa reportagem jornalística.
“Foi manipulação pura, uma investigação inventada”, disparou o ex-assessor, dizendo ainda que o ministro discutia diretamente com o procurador-geral Paulo Gonet quais denúncias deveriam ser apresentadas aos Tribunais Regionais Eleitorais.
Moraes, por meio de sua assessoria no STF, nega todas as acusações. Mas o fato é que os relatos de Tagliaferro são sérios e vieram acompanhados de documentos que, no mínimo, merecem uma perícia independente. O problema é que, no Brasil de hoje, levantar esse tipo de denúncia pode ser suficiente para transformar qualquer um em alvo.