Correios preparam demissão de 10 mil empregados em plano emergencial para evitar colapso financeiro
Imersos em uma crise sem precedentes, os Correios preparam um Programa de Demissão Voluntária (PDV) para desligar 10 mil empregados, como parte de um plano emergencial para aliviar a folha de pagamentos e tentar estabilizar a estatal, que enfrenta risco de insolvência. A meta é reduzir em R$ 2 bilhões por ano os gastos com pessoal — hoje o principal peso sobre as contas.
A direção da empresa, comandada por Emmanoel Rondon, admite reservadamente que a medida é inevitável para impedir um agravamento da crise financeira, que já resultou em prejuízo acumulado de R$ 4,3 bilhões em 2025 e um rombo mensal de R$ 750 milhões no caixa. A situação se deteriorou a ponto de atrasar pagamentos a fornecedores, afetar a operação e derrubar o índice de entregas no prazo para níveis críticos.
No último programa semelhante, apesar de 8 mil funcionários manifestarem interesse em aderir, apenas 3,6 mil efetivamente deixaram a empresa. Agora, a avaliação interna é que o PDV precisará oferecer condições mais vantajosas, ou o objetivo de 10 mil desligamentos não será atingido.
O plano ainda prevê campanhas internas intensivas para convencer empregados de que abandonar a carreira na estatal — historicamente vista como estável — é preferível à manutenção do quadro atual, marcado por cortes, atrasos e incertezas.
Para viabilizar o PDV e outras medidas de reestruturação, os Correios correm contra o relógio para levantar R$ 10 bilhões em até 15 dias, por meio de um empréstimo com garantia da União. O valor corresponde à metade do que a empresa buscava inicialmente (R$ 20 bilhões), mas os juros exigidos pelos bancos na primeira rodada de negociações foram considerados proibitivos — chegando a 136% do CDI.
A estatal tenta agora aprovar uma operação com custo máximo de 120% do CDI, limite usual para financiamentos com aval federal. Sem o empréstimo, fontes afirmam que a empresa não terá como pagar dívidas imediatas, nem colocar de pé o PDV.
A crise financeira já afeta diretamente a atividade-fim da empresa. Com fornecedores sem receber, as operações logísticas foram comprometidas e o índice de entregas no prazo caiu de 95% para 76% no primeiro semestre. Hoje está em 92%, mas a estatal considera que só acima de 95% será possível recuperar grandes clientes como marketplaces e empresas de e-commerce.
Enquanto negocia o novo empréstimo, os Correios ainda enfrentam um problema adicional: uma operação de crédito anterior, de R$ 1,8 bilhão, teve cláusulas descumpridas, o que fez disparar os juros e pode resultar na retenção de recursos pelos bancos já nesta semana. O episódio acendeu alerta no governo e dificultou ainda mais a captação atual.
Para evitar questionamentos futuros, a estatal já apresentou seu plano de reestruturação ao Tribunal de Contas da União (TCU), que monitorará cada etapa do processo, incluindo o PDV e as negociações financeiras.

